"Desafios da escrita"

 

JAÍRA RUAS. 

Professora de Português e Literatura e revisora estilística.

 

 
 

Nós - Eva Furnari

Editora Global

 

“No tempo em que as pessoas nasciam dos repolhos...”

A narrativa é apresentada com características do “mundo fantástico” dos Contos Clássicos: “Era uma vez uma princesa”...

No entanto, no decorrer da narrativa, a fantasia vai dando lugar a uma realidade que transcende os acontecimentos, conduzindo o leitor à percepção da trajetória conflituosa da protagonista da história.

 

 

 

A autora utiliza palavras que suscitam cheiros, cores e paladares. Cidade chamada Pamonhas, casa amarela, uma menina chamada Mel, rodeada de borboletas coloridas, e que havia nascido num repolho repolhudo.

 

 

 

 

Em situações oportunas, evocando a atenção do leitor para as mudanças que ocorrem no corpo e na perspectiva do olhar de Mel, surge como um refrão, muitas vezes, ”nasceu num repolho repolhudo”, ”num repolho mofado”. Mel foge. Isola-se.

Certo dia, notou um nó no pé, outro no nariz, no corpo inteiro.

Nesse momento, o texto revela um conteúdo profundamente subjetivo, utilizando as formas de expressão verbal e não-verbal. O aparecimento dos nós nas ilustrações e nas palavras de Mel.

 

 

Permita-nos nesse desafio, devanear um pouco: nós, plural de nó significa aprisionamento, solidão; nós, plural de “eu”, libertação, encontro, solidariedade. Não é que isso acontece?

Depois de fugir para vários lugares, viver muitas experiências, encontra um amigo e ao olhar para ele vê que ele também tem nó e “o garoto pôs a mão na mão de Mel...” ,  “os nós iam desaparecendo da mão, dos pés, do nariz...”

 

 

 

Foram para a cidade de Merengue, lado oposto de Pamonhas, onde as pessoas tinham nós.”Parecia gente nascida de todo tipo de repolho (...) repolho brilhante, branquinho, cascudo, espinhudo, peludo, remelento, mofado e até repolhudo.”

 

 

 

 

A percepção cedeu ao sentimento. Está livre. Deixou de ser um “eu” aprisionado em nós (plural de nó) para ser nós (eu + outros) e, assim Mel, certamente, viverá feliz com esse novo olhar para o mundo que a cerca.

 

 

 

 
É um livro para todas as idades. 
 
Como citamos acima, o conteúdo é profundo, mas a forma, a estrutura da narrativa escolhida pela autora, nos conduz às delícias dos contos onde tudo se resolve com magia e leveza e como a Cinderela, Mel encontra um príncipe, que a fará feliz para sempre!

 

20/03/2015